2, 3, 5, 7, 11, 13, 17, 19, 23, 29, 31, 37, 41…
(Publicado originalmente como uma sequência de tuítes, na madrugada do dia 20 de março para 21 de março de 2021)
Então, né, 41 anos totalmente completos. Pode parecer meio sem graça em comparação aos 40 anos, mas 41 tem uma particularidade: é um número PRIMO! E por isso eu decidi relembrar agora todos os meus aniversários/idades PRIMOS. Segura essa, turno da madrugada.
Para quem não se lembra, números primos são aqueles divisíveis apenas por 1 e eles mesmos. Ou seja, é o famoso número DIFERENTÃO. Apesar do número 1 se encaixar nesta definição, ele não é considerado primo. Tem um motivo aí, procurem no Google. Portanto vou começar por…
2 ANOS: Até exatamente ontem eu jurava que meu aniversário de 2 anos (ver foto abaixo) tinha sido de “Super-Heróis”. Uma coisa meio genérica misturando DC com Marvel, pois eram os anos 80 e não havia muita preocupação com purismo. Vendo mais fotos antigas, porém, descobri que meu aniversário de 5 anos na verdade é que foi de “Super-Heróis”, quando eu jurava que na verdade tinha sido de “Popeye”. Mas a verdade é que o aniversário que eu achava ser de “Popeye” foi de “Olívia Palito” da minha irmã, e só me vestiram de Popeye pra combinar!
Basicamente minha vida é uma mentira e não se pode nem confiar nas próprias memórias! Bem, mas daí ficou o mistério: se meu aniversário de 5 anos é que foi de “Super-Heróis”, qual foi o tema da minha festa de 2 anos?? (Aliás, faltou a foto lá em cima, vai agora)
Daí eu fiz uma videoconferência com meus pais hoje, pois foi meu aniversário. Perguntei, e NINGUÉM SABE. Minha mãe estava no final de uma gravidez de risco esperando minha irmã e se lembra de ter que ficar em repouso absoluto e só; já o meu pai não se lembra nem do que almoçou ontem
De modo que as hipóteses mais prováveis são: eu tive uma festa genérica sem tema algum aos 2 anos; ou eu tive uma festa de “Super-Heróis” aos 2 anos e reaproveitaram o mesmo tema e toda decoração pra minha festa de 5 anos também! E minha festa do “Popeye” nunca existiu!
E o que isso tem a ver com a proposta original do tuíte? Boa pergunta. Eu me perdi numa enorme digressão. Enfim, 2 anos, minha primeira idade que era um número PRIMO. Foi quando minha irmã nasceu e eu me mudei do Leblon para a Tijuca, onde permaneci por 25 anos. Meu futuro como personagem de Manoel Carlos deixou de existir, e tudo o que restou foi a possibilidade de ser do núcleo pobre da novela.
3 ANOS: O tema deste meu aniversário, o 2º número PRIMO, foi “Sítio do Pica-Pau Amarelo”. Quer dizer, eu acho que foi, né. Não posso colocar a mão no fogo. Não lembro nada desta festa, mas nada impede que na verdade este tenha sido o tema do aniversário de 1 ano da minha irmã.
Mas é provável que tenha sido o meu, pois eu adorava a série televisiva do “Sítio”. Menos a Cuca, eu morria de medo da Cuca. Acredito até que não teve Cuca na decoração. Eu lembro que a gente tinha uma vizinha, que nem era do meu prédio, mas da rua, e ela era meio doida e gritava tão alto que dava para ouvir do nosso apartamento! E ela tinha a voz IGUALZINHA a da Cuca! Ficávamos eu e a minha irmã tremendo de medo. Quer dizer, minha irmã ainda era muito nova nessa época para ter medo da voz da Cuca, então eu provavelmente ficava com medo sozinho
E ela só deve ter se juntado à fobia da vizinha com voz de Cuca uns anos mais tarde. Sim, foram anos de terror. Além disso, eu lembro que eu detestava a pré-escola. Achava as crianças muito selvagens. Tinha uma garota que comia papel e eu não entendia a razão disso.
5 ANOS: a 3ª idade PRIMO, e essa é a que agora eu tenho certeza que foi com o tema “Super-Herói”, pois tenho evidências fotográficas (ver abaixo, detalhe para eu vestido de Super-Homem usando uma máscara de papelão do Batman). Foi a idade em que eu deixei de ser fofo…
…e virei um magrelo esquisitão. Eu já era achacado por valentões na pré-escola, e um em específico vivia a me perseguir. Era o Sérgio, até hoje me lembro do nome dele. Um dia entrou um besouro na sala de aula e o Sérgio começou a chorar. Guardo com carinho esta recordação.
Foi também o último ano em que eu não sabia ler. Lembro da sensação de ver a minha mãe escrevendo coisas do trabalho dela à mão, e de eu olhar para aquelas letras sem ter a menor ideia do sentido, como se estivesse vendo, hoje, um alfabeto alienígena (ou, sei lá, japonês).
7 ANOS: minha 4ª idade PRIMO. Que idade esquisita. Não tem nenhuma foto do meu aniversário, o que é meio estranho, pois naquela época se você ia tirar foto de alguma coisa ia ser disso. Não me lembro nem se HOUVE aniversário. Talvez eu tenha morrido e sido trocado por um clone.
Há pouquíssimas fotos daquele ano como um todo, aliás. Talvez tenha sido culpa do Sarney, acabei de pensar isso. Era 1987, Sarney já era presidente. Devia ser a inflação, devia estar caro comprar filme. Mas por que não tem foto do meu aniversário mas tem d’eu com a minha Monark?
Talvez meu pai estivesse orgulhoso por eu ter aprendido a andar de bicicleta. Nos anos subsequentes eu ensinei alguns primos a andar de bicicleta. Meu sucesso no ciclismo amador, porém, não se refletia na escola. Eu tinha me mudado para um colégio grande e foi neste ano que começou meu suplício, que só ia terminar 8 anos depois, quando finalmente fui para outro colégio. Mas isso já é outra história. Eu me lembro é de voltar ao meu colégio antigo, para rever minha professora.
Na verdade era menos rever minha professora e mais mostrar como eu tinha crescido e ficado muito cool. No ano anterior um ex-aluno tinha nos visitado e ele usava óculos escuros e um relógio digital. Pensei: “é isso que os garotos grandes fazem”. Então voltei assim no ano seguinte.
Mas eu não me sentia muito cool, e sim muito estranho. Eu nunca tinha usado óculos escuros antes, e tampouco relógio digital. Pelo menos eu podia descansar as mãos no relógio. Fiquei ali parado olhando para aquelas crianças mais novas que eu não fazia a menor ideia de quem eram.
Foi a última vez que eu voltei ao meu antigo colégio, e desde então nunca fui muito fã de óculos escuros.
11 ANOS: aqui damos um pequeno salto e vamos direto para o início do Ensino Fundamental 2: a 5ª série. Naquela época a gente chamava esta fase de “Ginásio”. Até que eu me lembro daquele aniversário. Eu estava, acho, vestido todo de verde (minha cor favorita) e nem estava tão feio.
Foi o melhor ano da minha vida escolar antes do Ensino Médio. Eu até tinha um GRUPO de amigos, e não apenas UM amigo, que geralmente era quem quer que fosse a pessoa mais bizarra da turma depois (ou antes) de mim. Nossa sala era enorme e tinha uma VARANDA exclusiva.
Nos intervalos das aulas a gente aproveitava o amplo espaço nos fundos para LUTAR SUMÔ. Foi neste ano que eu descobri que eu sabia falar em público, apesar da timidez, ao apresentar meu primeiro trabalho em grupo na frente da turma inteira
E, para coroar o ano, eu fui protagonista de uma peça que foi assistida por metade do colégio, e fiquei super-famoso por umas duas semanas antes do ano letivo terminar. Mas isso merece uma história à parte, que contarei outro dia, pois este evento completa 30 anos em 2021.
13 ANOS: bem, o que falar do primeiro ano oficial da minha adolescência, além de “foi uma merda, mas passou, né?”. Por outro lado, foi até um avanço em relação ao ano anterior, quando eu me envolvia em brigas o tempo todo e fui até obrigado a usar o que eu aprendi no karatê.
Meu aniversário também foi inesquecível. Aconteceu uma enchente épica na Zona Norte do Rio naquele 20 de março de 1993, e com isso só umas 3 pessoas foram à minha festa. Até hoje não sei como elas chegaram. (Confiram a matéria que saiu nO Globo no dia seguinte ao temporal)
Apesar do quórum baixo, eu e meus convidados nos divertimos muito na festa. Tiramos várias fotos loucas, que infelizmente não tenho aqui. Pena que o resto do ano não seguiu nesta toada e foi bem “nhé”. Por outro lado eu consegui evitar o pior valentão do colégio até ele ser expulso por quebrar o braço de alguém mais desafortunado do que eu.
17 ANOS: mais um salto e chegamos ao ano do meu vestibular (não existia Enem), o último da educação formal. Não dá para dizer que foi “bom”, assim, “bom” de verdade. Mas o meu 2º Grau (Ensino Médio) como um todo foi bem melhor do que o Ensino Fundamental…
Foi basicamente um ano de muito estudo. Quer dizer, nem tanto para mim. Eu estudei o de sempre, que nunca foi muito. Na maior parte do tempo eu dormia. Eu ia toda semana pro trabalho do meu pai, pois nessa época eu fazia RPG (Reeducação Postural Global) por problema na coluna, e a clínica era perto de lá.
Daí eu ficava enfurnado na biblioteca do trabalho dele, que invariavelmente tinha apenas eu numa grande mesa. Eu levava umas apostilas que acabavam servindo de travesseiro. Às vezes tentava ler “Quincas Borba”. Demorei um ano para concluir a leitura, tamanho o meu sono.
Só sei que ao final disso tudo eu fui primeiro colocado no vestibular da UFRJ. Até hoje eu digo que o segredo para ir bem no vestibular é estudar aos pouquinhos ao longo de anos (eu comecei lendo apostilas aos 12 anos porque queria spoilers do que ia aprender) e dormir bem.
(Mas a verdade é que eu não tenho a menor ideia)
23 ANOS: Eu não sei como eu fui de “nerd esquisitão sem chance alguma de arrumar uma namorada” aos 17 para “namorado de uma mulher linda, inteligente e engraçada” aos 23, que acabou virando minha esposa. Só sei que foi assim.
O fluxograma deste evento é basicamente ESQUISITÃO AOS 17 -> ???? -> NAMORADO DE MULHER LINDA, INTELIGENTE E ENGRAÇADA AOS 23. É tipo a infância de Jesus, ninguém sabe muito bem o que houve. Talvez eu tenha morrido e sido trocado por um clone. De novo.
Já o meu aniversário de 23 anos foi muito marcante. Eu comemorei junto com o meu amigo Gabriel, que faz aniversário no mesmo dia, numa boate extremamente FLOPADA em Ipanema. Tanto que, embora não tenhamos reservado nada, só havia a gente e nossos convidados. Foi ótimo.
Estava todo mundo tão bêbado que por algum motivo tiraram uma foto minha saindo do banheiro. Depois tem outra em que aparentemente eu estou sensualizando enquanto me apóio numa viga em frente à pista de dança completamente vazia (fotos abaixo).
Às vezes parece que 2003 foi ontem, mas daí eu lembro que não havia nem Orkut. Muito menos YouTube. E que todas as fotos dessa festa de aniversário foram tiradas com filme, e eu escaneei tudo depois. Foi um ano bom. Vi um show do White Stripes e virei trainee da Folha de S.Paulo.
(Acabo de perceber que eu pulei um ano PRIMO, então vamos fazer um pequeno flashback para os…)
19 ANOS: Infelizmente essa idade não explica as interrogações que me levaram aos 23 anos. Eu estava na faculdade de jornalismo. Lembro que tinha passado o aniversário anterior em casa, irritado por não ter ido a um show do Oasis que acontecera no mesmo dia em que completei 18…
Porém, no ano seguinte eu já conhecia mais gente na faculdade e meio que prepararam um aniversário para mim. Fui ao TEATRO, e depois a um BAR comer PIZZA. Várias das pessoas presentes naquele evento sumiram da minha vida. Seja por distanciamento natural, seja por briga mesmo.
Foi um ano bem atípico, acho que de transição mesmo. O ano seguinte foi muito melhor. Talvez eu devesse discutir na minha terapia por que eu pulei este ano na sequência de tuítes.
29 ANOS: Voltando à ordem cronológica. O que é que eu estava fazendo em 2009 mesmo? Ah, sim, eu estava NA MERDA TOTAL. Ok, para ser justo, no meu aniversário eu não estava tão mal assim, embora eu não tenha lembrança alguma do evento. Nessa época, comecei a dar aulas na UFRJ e esta foi a parte boa do ano. Eu tinha sido demitido (“corte de custos”) do meu 1º emprego bom, iniciado em 2006, e tinha um grande NADA pela frente. Eu já tinha passado METADE do ano anterior atrás de emprego, pois fui demitido no meio de 2008, sem conseguir chongas.
Então, graças a uma sequência de MILAGRES, eu fui escolhido para dar duas disciplinas gráficas para alunos dos últimos períodos. Eu queria mesmo era dar a disciplina gráfica do currículo básico para os calouros, mas eu não estava em condições de fazer muitas exigências.
Digo MILAGRES porque eu fui escolhido sem ter experiência acadêmica ALGUMA, apenas pela minha experiência no mercado, algo um tanto alienígena no meio das ciências humanas (esqueci de dizer que eram aulas para o curso de jornalismo)
Eu era professor substituto, um quebra-galho enquanto não faziam um concurso para o professor efetivo. Uma aluna que era estagiária do site de notícias internas da universidade até pediu para tirar uma foto minha dando aula, para ilustrar uma matéria sobre a minha “categoria”
Eu dava apenas 20 horas de aulas por semana e ganhava muito mal, mas foi o que me salvou durante cerca de 5 meses. Apesar de ser um trabalho meio-período, acho que nunca me esfalfei tanto. O tempo que eu ficava dando aulas eu gastava quase o dobro PREPARANDO as benditas.
Talvez fosse minha falta de experiência, mas acho que tinha mais a ver com o fato da UFRJ ser uma zona e eu ter basicamente inventado dois cursos completamente distintos do ZERO. Se eu tivesse tido a oportunidade de dar aulas no semestre seguinte, teria ficado mais fácil
Apesar de toda a a trabalheira, foi o emprego mais emocionalmente gratificante que eu já tive. Gostei muito, e faria de novo se pagasse melhor. Meus ex-alunos parecem ter gostado também, tanto que no ano seguinte eu, um mero professor substituto, entreguei diplomas na formatura.
Bem, mas como eu comecei dizendo, essa foi a parte boa. Depois que o primeiro semestre acabou, foi tudo a mais PURA DESGRAÇA. Desemprego, crises, falta de dinheiro, tudo uma merda. Mas fico feliz por ter sobrevivido e chegado ao próximo número primo.
31 ANOS: Rapaz, que ano bom. Eu tinha conseguido um ótimo emprego no ano anterior, e agora eu era chefe. Ganhava muito mais do que no meu último trabalho como designer. Sobrava tanto dinheiro, aliás, que eu e a minha esposa decidimos viajar pro exterior. Conhecemos Chicago.
Nossa viagem mudou um pouco de propósito, porém. Duas semanas antes de embarcarmos minha esposa descobriu que estava grávida. Sim, grávida da “minha filha de algumas semanas de gestação”. Acabamos aproveitando para fazer o enxoval e tivemos que ficar mais paradinhos do que gostaríamos no Lollapalooza 2011.
Foi o último ano que comemorei meu aniversário junto com o meu amigo Gabriel. Aliás, foi o último ano que eu fiz uma festinha para comemorar meu aniversário, ponto. Como minha filha nasceu perto de mim, os aniversários dela passaram a ser prioridade.
Naquele ano, cansados de ficar completando a conta por causa de convidados que iam embora sem pagar nada, tomamos uma decisão muito adulta e comemoramos num bar com COMANDA INDIVIDUAL. Foi excelente. Vejam uma foto daquele dia, tirada em máquina digital de baixíssima qualidade.
Já perto do final daquele ano, depois de voltarmos dos EUA e de irmos a dois casamentos de pessoas queridíssimas, eu e minha esposa nos mudamos para um apartamento maior. Aí o dinheiro começou a não sobrar tanto. Mas foi por um bom motivo. Minha filha chegaria menos de 3 meses depois.
37 ANOS: Eu já estava há 6 anos sem comemorar meus aniversários quando, em 2017, fiquei pensando em como era aleatória essa idade, 37 anos. Até me dar conta de que era um número PRIMO. Daí me bateu a idéia de fazer uma festa de aniversário por este singelo motivo.
Acabou não acontecendo. Minha filha fez 5 anos, quis uma festa com o tema FROZEN, tivemos que contratar uma Elsa e não sobrou dinheiro algum para uma outra festa logo depois. Em compensação, tivemos este momento (não, eu não era a Elsa contratada)
Não me lembro dos meus 37 anos terem sido ruins. Teve esta festa inesquecível da minha filha, ela fez o último ano da creche, que nós amávamos, e houve vários eventos incríveis relacionados à escolinha dela (ela e a turminha dançaram Thriller na festa junina!).
Para mais histórias daquela época, procure pelo meu user e “minha filha de 5 anos”, foi quando eu comecei a falar mais dela aqui no Twitter.
(Já o ano posterior foi horrível, prefiro nem lembrar).
41 ANOS: Bem, isso acabou de acontecer, né. Tive um bom dia, apesar de estar recluso e no meio de uma pandemia pela SEGUNDA vez. Ano passado eu queria muito ter comemorado meus 40 anos. Afinal, é um marco. Daí quando começou a pandemia pensei: fica pros 41, o próximo número PRIMO…
Não rolou de novo, como todos sabem. Agora, vou ver se faço algo aos 42. Para os fãs de Douglas Adams (eu sou), o número tem um significado especial. Mas eu pensei em comemorar mais pelo fim da pandemia mesmo. Caso AINDA não tenha acabado… Bem, pelo menos 43 é primo também!