A farra (mais ou menos) acústica de Ben Kweller no Rio
Publicado originalmente em dezembro de 2012 no (agora extinto) site LineUp Brasil
Confesso que não sabia o que esperar do show do Ben Kweller. Quando anunciaram que ele viria sozinho para fazer uma apresentação acústica, tive minhas dúvidas se o formato daria certo. Seria algo no esquema banquinho-e-violão? A plateia teria que fazer silêncio total, como num show do João Gilberto? Considerando a dinâmica das músicas do americano, ficava difícil imaginar a coisa funcionando.
Qualquer preocupação que eu pudesse ter, porém, se dissipou no momento em que Ben Kweller pisou no palco do Imperator, casa de espetáculos localizada na zona norte do Rio de Janeiro, em mais um evento bancado pelo Queremos. Muito animado, começou com “Commerce, TX”, do seu excelente disco de estreia, e logo mostrou que a ideia não era fazer um show calminho e paradão. Apertando um pedal, seu violão se transformava numa guitarra e garantia que a essência e a energia de suas músicas não se perderiam. Assim, foi fácil ganhar a pequena plateia que se aglomerava na frente do palco e desde o começo cantava junto todas as músicas. Contando com apenas dois violões e um piano, o branquelo preenchia aquele espaço como se fosse uma banda completa.
Após uma sequência de quatro músicas no violão, Ben se dirigiu para o piano para tocar o primeiro hit de sua carreira, “How It Should Be (Sha Sha)”, não sem antes fazer uma absolutamente inusitada citação de “Olha a Onda” do Tchakabum (!). Durante o momento pianinho, ficou claro que Kweller consegue prender a atenção do público não apenas com distorção, mas também com delicadeza. A versão de “Falling”, por exemplo, foi tão pungente que é forte candidata a melhor canção do show.
Assim como aconteceu em São Paulo, o músico atendeu a alguns pedidos de fãs, especialmente os dos que levaram cartazes. Foi assim que conseguiram que ele tocasse “Believer” e “On Her Own”. Já “Lizzy”, por exemplo, foi no grito mesmo. Lá pelas tantas, algumas pessoas gritavam por “Until I Die” e, antes de tocá-la, Ben Kweller perguntou: “Vocês têm chaves?”. A princípio, ele queria que balançássemos nossos chaveiros para acompanhar a música, mas logo elevou a ideia a novos patamares e decidiu formar uma “orquestra” em cima do palco. E com aquele monte de gente sentada ao lado do piano balançando suas chaves, Kweller criou mais um momento inesquecível para seus fãs.
Foram mais seis músicas — entre elas “Run” e “Sundress” — até chegar na catártica “Wasted and Ready”, a última antes do bis. Quando Kweller voltou ao palco, pediu desculpas pelo adiantado da hora (o show começara 22h15 e passava um pouco de meia-noite) e só pôde tocar mais uma música: a indispensável “Penny on the Train Track”, que costuma fechar a maior parte de suas apresentações.
Tocados os últimos acordes, ele se despediu e desceu correndo do palco em direção à banquinha montada na lateral da plateia, onde mais cedo eram vendidos CDs e camisetas. Ben passou então a dar autógrafos a quem se dispôs a entrar na imensa fila que se formou, mas logo foi obrigado a encerrar a interação com o público pela restrição de horários da casa. Eis aí o único ponto negativo da apresentação que, apesar da ótima infraestrutura do Imperator, provavelmente se beneficiaria da flexibilidade do Circo Voador. Apesar disso, foi um dos melhores shows a passar pelo Rio de Janeiro este ano. Realmente, não havia com o que se preocupar.