Grizzly Bear no Rio: sem espaço para o tédio
Publicado originalmente em fevereiro de 2013 no (agora extinto) site LineUp Brasil
Quando o Queremos! anunciou que a complicadíssima campanha para trazer o Grizzly Bear para o Rio tinha sido bem-sucedida, fiquei exultante. Afinal, por muito pouco a cidade não perdeu o show de uma das melhores bandas desse início de século. Se eu fosse o tipo de pessoa que faz listas, não hesitaria em colocar o conjunto do Brooklyn numa das mais altas posições do meu “top 10 shows que eu gostaria de ver”. O problema com esse tipo de classificação, porém, é criar uma expectativa tão grande em cima do evento que o único resultado possível passa a ser a frustração. Era o que eu temia quando cheguei ao Circo Voador naquela noite chuvosa de fevereiro. No entanto, Ed Droste, Daniel Rossen, Chris Taylor e Christopher Bear não apenas não decepcionaram como conseguiram superar as expectativas. Mais ou menos como um atleta que quebra um recorde mundial que parecia eterno.
Alinhados no palco, sem destaque específico para nenhum membro da banda, os americanos desfilaram quase todas as músicas do ótimo “Shields”, o disco mais recente, sem se esquecer de algumas favoritas do público, como “While You Wait for the Others” e “Two Weeks”, do álbum “Veckatimest” — que animaram bastante a plateia — ou “Knife”, a mais famosa do “Yellow House”. Sobrou espaço até para “Shift”, do pouco cotado primeiro disco. Embora o setlist seja bastante parecido em todas as apresentações do grupo, com apenas uma ou outra alteração, o show não tem uma cara ensaiadinha. Todas as músicas soam espontâneas, e percebe-se claramente a alegria da banda em tocar aquelas canções.
Muito simpático e falante na medida certa, Ed Droste, que dividia os vocais principais com o também compositor Daniel Rossen, não se cansava de elogiar o Rio e de afirmar o quão estúpido era não ter vindo ao Brasil antes (mais tarde, na internet, a banda manifestou o desejo de voltar com mais frequência ao país, e que para isso topa até tocar em batizado). Já no seu quarto disco, só agora o Grizzly Bear fazia a sua primeira turnê pela América do Sul. Talvez por isso, o grupo tenha resolvido dar de presente para a plateia a linda “Colorado”, com mais de 9 minuto de duração, raramente tocada durante esta turnê.
Foi uma apresentação com som muito alto, o que funcionou excepcionalmente bem com a dinâmica das músicas, que vão do delicado ao explosivo. Os momentos de instrumentação mais esparsa não desviavam o foco da plateia e os momentos mais intensos eram realmente catárticos — em grande parte graças à fenomenal bateria de Cristopher Bear. Mesmo com várias músicas passando da marca dos 5 minutos, não havia espaço para o tédio. O som do Grizzly Bear clama por atenção, e é praticamente impossível escapar incólume.
A parte difícil de resenhar um show como esse é que praticamente não há pontos baixos. Como todas as músicas funcionam muito bem ao vivo, fica praticamente impossível eleger um destaque. Ainda assim, a última canção teve um quê especial. Talvez pelo acúmulo de momentos sublimes durante a apresentação, não teve como não sentir um frio na espinha quando os quatro se juntaram no centro do palco para tocar uma versão acústica de “All We Ask”. Sinal de que, embora o volume do som tenha ajudado, ele não é absolutamente necessário quando você tem repertório tão bom quanto o do Grizzly Bear. Talvez seja prematuro dizer isso com o ano recém-começado, mas já temos um sério candidato a melhor show de 2013.