Mayer Hawthorne no Circo Voador (RJ), em 2012. Foto: Vitor Dornelles

Mayer Hawthorne contra o baixo-astral

Vitor Dornelles
3 min readAug 17, 2020

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Publicado originalmente em fevereiro de 2012 no (agora extinto) site LineUp Brasil

Em sua segunda visita ao Rio de Janeiro ficou provado que Mayer Hawthorne não faz shows. Mayer Hawthorne comanda festas. O público que lotou o Circo Voador — majoritariamente jovem, embora também pudesse contar alguns senhores de cabelo grisalho — sabe bem do que estou falando. Identificado com o movimento neo-soul — embora ele mesmo não goste muito do rótulo — , que tem nos brindado com grupos do naipe de Fitz and the Tantrums, JC Brooks and the Uptown Sound e Sharon Jones and the Dap Kings, o branquelo de óculos definitivamente é mestre em entreter uma plateia.

Mayer Hawthorne e o baixista mega-cool, Joseph Abrams (2012). Foto: Vitor Dornelles

Com o auxílio da incrível banda de apoio The County — e destaque para o seu baixista mega-cool, Joseph Abrams — Hawthorne, de calças curtas e meias à mostra, começou de cara com “Maybe So, Maybe No”, mostrando que o objetivo da noite era fazer dançar mesmo. Embora tenha apenas dois discos, possui uma invejável coleção de hits: “Your Easy Lovin’ Ain’t Pleasin’ Nothin’”, “Make Her Mine”, “The Ills”, todas presentes no setlist. E mesmo as músicas do segundo disco — menos focado no soul do que o primeiro -, como “The Walk” e “Hooked”, ganharam mais vida no palco. Eis aí uma característica fundamental de um bom show, e que sobra nas apresentações de Mayer Hawthorne: ele sabe dar “molho” às suas canções e deixá-las ainda mais apetitosas.

Mayer Hawhtorne tocando um pandeiro (2012). Foto: Vitor Dornelles

A simpatia evidente do cantor ajudou, claro. A apresentação foi coalhada de pequenos momentos entre as músicas. Falante, como sempre, ele contou historinhas — como a da ex-namorada antes de “Just Ain’t Gonna Work Out”; puxou coreografia de chuva durante “I Wish It Would Rain”; tirou foto com a galera ao fundo para postar no Twitter; e até serviu bebida pro pessoal da primeira fila na volta pro bis. (Além disso, merece mais um ponto positivo por não ter repetido a piadinha do “sósia do Tobey Maguire”, frequente na turnê anterior).

Vários momentos do show de Mayer Hawthorne no Circo Voador (RJ), em 2012. Fotos: Vitor Dornelles

Foram mais de 20 músicas, e mesmo durante os momentos “baba romântica”, como em “Strange Arrangement” — composição da qual Hawthorne disse sentir muito orgulho — o público não parou de cantar. Por mais que eu descreva a performance, contudo, no fim é um trabalho vão. Era preciso estar ali. Como disse o próprio Hawthorne, após o “momento foto” — em que os integrantes da banda fizeram poses engraçadinhas para que a plateia capturasse suas imagens — é necessário guardar as câmeras, abaixar os celulares e realmente estar de corpo presente.

A exemplo do que aconteceu no seu primeiro show no Rio, também no Circo Voador e também bancado pelo Queremos, Mayer Hawthorne mostrou por que deveria ser receitado como medicamento anti-tristeza. Simplesmente não dá para ficar infeliz.

Miniatura do cantor Mayer Hawthorne no palco do show no Rio de Janeiro, em 2012. Foto: Vitor Dornelles

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