Minha Novela

Vitor Dornelles
5 min readMar 5, 2022

(Texto escrito originalmente em fevereiro de 2018, quando a revista Minha Novela encerrou as atividades pela primeira vez. Em 2019 ela retornou às bancas e durou até fevereiro de 2022, quando acabou novamente, agora de forma definitiva, creio eu. Agradeço várias pessoas ao longo do texto abaixo, e a elas devo acrescentar também a Amanda Meirinho, que foi minha assistente de fechamento nos últimos três anos)

Quando o telefone tocava no trabalho e eu atendia respondendo “Minha Novela”, volta e meia algum desavisado respondia “Sua novela?”. Eu nunca liguei muito para isso, o nome da revista era meio engraçado mesmo. E, parando e pensando bem, eu não teria problema nenhum em admitir que a revista Minha Novela era mesmo… Bem, “minha”. Esse estranho sentimento de posse, que talvez possa ser classificado como errado, ficou ainda mais evidente quando, na terça-feira passada, recebi a devastadora — e não uso esse adjetivo aqui à toa — notícia de que a revista Minha Novela não existiria mais. A minha revista.

Mas é verdade que ela não era só minha. Ela era, especialmente, do Jorge Luiz Brasil, meu chefe e amigo. Aliás, o caso do Jorge é especial: a revista era dele e ele era da revista, numa espécie de simbiose que já levou muita gente a afirmar, acertadamente, que ele era a alma da publicação. Foi ele quem me comunicou, no que deve ter sido um dos momentos mais tristes de nossas respectivas carreiras, que a Minha Novela tinha acabado. Quando eu entrei para a revista, quando passei a fazer parte da assim chamada “família Minha Novela”, ali no final de 2006, eu jamais poderia imaginar que o final ia ser tão doloroso.

Foi o Silvio Testa quem me contratou, mesmo eu tendo sido o único candidato na dinâmica de grupo a afirmar que não via novela. Sempre me lembro da entrevista final, na qual estava presente também a então estagiária Letícia Lavôr, e de como eu achava que não tinha nenhuma chance de passar. Eu fiquei genuinamente surpreso ao receber a notícia de que tinha sido aprovado. Tinha saído há pouco tempo de um emprego que era uma constante fonte de angústia e que não me pagava em dia, então foi um grande alívio saber que eu ia trabalhar na Editora Abril, que era a casa da revista naquela época. Sempre vou me lembrar com muito carinho da primeira (para mim) equipe da Minha Novela, que, além de Jorge, Silvio e Letícia, contava também com a competência inestimável de Heloiza Gomes, Camilla Mota, Fernanda Tsuji, Rafael Campos, Hellen Ribeiro, Verônica Buratini e Renata Castro. Vivi momentos muito felizes ali, e uma das razões foi ter trabalhado com essa galera, que deixava o clima na redação tão leve e divertido que não foram poucas as vezes em que a Regina me ligava e não conseguia escutar nada, de tanto barulho e gargalhadas na redação.

Minha relação com a Minha Novela sofreu um pequeno abalo, porém, em meados de 2008, quando fui demitido numa daquelas reestruturações que todo mundo que já trabalhou na Abril conhece muito bem. Depois disso, passei por um período ainda mais difícil do que o que antecedera a minha contratação em 2006, até que, após um ano e meio afastado, Silvio me convidou para assumir a sua vaga, como editor de arte. Confesso que hesitei a princípio, talvez meio por medo de estragar as boas lembranças anteriores, mas acabei aceitando. Foi uma ótima decisão. Trabalhando sob o comando da dupla Mônica Kato e Kika Gianesi e, claro, do Jorge, iniciei uma experiência profissional que me mudou para sempre. Foi nessa época que eu finalmente alcancei a estabilidade financeira que, entre outras coisas, permitiu que a Penelope nascesse. Nunca me esquecerei daquele ano de 2010.

Foi ali que eu assumi também uma nova função: a de tutor de estagiários. Por muito tempo a minha equipe foi composta por uma dupla de estagiários. Quando eu era ainda o designer da revista, já tinha trabalhado com as talentosas estagiárias Thamyres Mitidieri e Luisa Primo, e meio que procurei um pouco delas em todas as minhas contratações subseqüentes. Para mim, era tão importante escolher os estagiários que, em determinado momento, passei a dispensar o RH da empresa e fazer eu mesmo todo o processo seletivo. Graças a essa minha preocupação, consegui trabalhar com gente do quilate de Victor Tufani, Luíza Gantois, Natalia Bae, Danielle Hirsch, Lorena Murray, Larissa Pinho, Marília Procópio Tavares, Mari Meireles, Carmem de Andrade e Iana Alves.

A jornada dessa minha segunda temporada na Minha Novela foi mais longa do que a primeira e também com mais emoções. Em 2014 a revista foi vendida para a Editora Caras e, apesar dos temores iniciais, acabamos sendo muito bem tratados e conhecendo um monte de gente supimpa. Até indicado a um prêmio nacional de design eu fui! Assisti também, infelizmente, a muitas demissões de profissionais de enorme competência. O que me deixava até um pouco incrédulo de que conseguiríamos resistir à tempestade que nos cercava. Porém, contrariando toda e qualquer expectativa, a Minha Novela parecia destinada a sobreviver às piores intempéries.

Mesmo no começo de 2018, quando a Editora Caras já tinha começado a se desfazer das muitas publicações que adquirira da Abril quatro anos antes, e recebemos a notícia de que seríamos novamente vendidos (desta vez para a Editora Escala), achamos que ainda teríamos fôlego para resistir. Quis o destino porém, que por problemas graves de distribuição, algo que jamais passou pela minha cabeça, e apenas 3 meses depois da nossa nova mudança, não completássemos 19 anos como “a melhor revista de novelas do Brasil”, que era o nosso slogan. E estávamos a apenas 11 edições do que seria a histórica edição número 1.000… (Nota: após o retorno da revista em 2019, chegamos até a edição mil e acrescentamos ainda mais alguns números, encerrando na 1.141)

Eu não pretendia me estender tanto, e nem sei se esse texto ainda faz algum sentido, mas não posso deixar de agradecer também a outras tantas pessoas que fizeram parte da história da Minha Novela: Bruno Dias Barbosa, Tati Ferreira, Bia Amorim, Ícaro Martins, Vivi Tufani, Priscilla Jucá, Stephanie Celentano, Simone Magalhães, Alexandre Toledo, Carol Esquilante, Janaina Mayer, Ligiane Anjos, Roberta Cerasoli, Julia Lima Carvalho, Rafaela Kamacho… Enfim, é muita gente, perdão se eu esqueci alguém. Devo ter esquecido.

Mas, por último e não menos importante, tenho que agradecer à equipe final da Minha Novela, e que, a exemplo da equipe inicial, ficará igualmente marcada na minha memória: Jorge Brasil, Paula Robinson, Camilla Serrão, Thomaz Rocha, Fernanda Chaves, o saudoso Carlos Ramos, Jaquelini Cornachioni, Carolina Rossini e Rogerio Jose da Veiga. Muito, muito obrigado a todos. Porque no final a Minha Novela não era mesmo só minha. Era nossa.

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