Imagem criada com o auxílio do modelo de inteligência artificial DALL-E 3

No qual eu penso no futuro

Vitor Dornelles
4 min readOct 4, 2023

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Já pensou que em 100 anos o prédio ou casa em que você mora, por mais novo(a) que seja, pode ter sido demolido(a) e existir apenas em fotos?

Às vezes eu penso no mundo daqui a 20 anos. Eu e minha esposa teremos 63. Nossa filha, 31. Existe a chance dos meus pais ainda estarem vivos, mas estarão bem idosos: minha mãe com mais de 80, meu pai com mais de 90. Ainda que eu dê essa sorte, muita gente que conheço terá morrido. Não apenas pessoas do meu convívio, mas também pessoas que admiro na música, no cinema, na literatura, e, veja só, até na Internet. Isso não pára. Os jovenzinhos de 20 e poucos serão quarentões, e estarão muito irritados com os novos jovens, que são os bebês de agora. Até a minha filha já vai estar meio velha para os novos jovenzinhos. E eu vou estar rindo muito disso tudo. Será que ainda haverá Twitter? Quando eu entrei lá, 15 anos atrás, não fazia ideia de que duraria tanto tempo. Então tudo é possível.

Daí eu penso no mundo daqui a 40 anos. Caso eu ainda esteja vivo, terei 83 anos. Minha filha, com 51, já tem mais de meio século. Os jovenzinhos de 2023 estão rindo dos bebês atuais, que em 2063 são os quarentões irritados com os bebês nascidos em 2043. A essa altura o mundo é cheio de gente nova. A maioria talvez nem tenha vivido a pandemia. O que será que eles pensam? Quais as novas modas? O que consideram grotesco e atrasado, das coisas que nós fazíamos sem nem pensar? Meu pais provavelmente não estão mais vivos, mas se estiverem já são centenários. Não o suficiente para baterem nenhum recorde de longevidade atual, porém. Daqui a 40 anos o cometa Halley já terá voltado e ido embora de novo, e eu realmente gostaria de presenciar isso. Nunca se sabe.

Daí eu penso no mundo daqui a 60 anos. Se eu estiver vivo, o que acho bastante improvável, terei 103. Minha filha já será uma idosa, com 71. Ou será que pessoas de 71 não são mais consideradas idosas? É possível. Talvez eu até esteja vivo mesmo, vai saber o quanto a medicina avançou? Os jovenzinhos de 2023 agora têm mais de 80 anos. Muitos já morreram, apesar dos avanços da medicina, pois você continua podendo escorregar no banheiro e bater com a cabeça em algum lugar. Ou será que não? Talvez os banheiros agora sejam todos à prova de acidentes. Os bebês atuais, que nasceram literalmente este ano, já são senhores de 61 anos. Sim, você pegou no colo aquele cara que está usando o assento preferencial do metrô. Se é que ainda existe metrô. E, se 61 anos não for mais considerado idoso, também não tem direito a assento. Enfim.

A essa altura o século XX já foi quase todo embora. Se não houve avanços da medicina, os “bebês dos anos 90” estão começando a deixar este mundo. Mas se a medicina avançou como esperamos, talvez o século XX dure mais tempo. De todo modo, o próprio século XXI já não anda muito bem.

Daí eu penso no mundo daqui a 80 anos. Se eu ainda não morri, eu já bati o recorde de longevidade atual (122 anos) com meus impressionantes 123 anos. Mas isso é extremamente improvável. Vou me contentar com a volta do cometa Halley. Já a minha filha tem 91 anos, o que não é tão improvável assim. Os jovens de 20 e poucos anos de 2103 (bem-vindos ao século XXII!) agora têm idade para serem netos, ou talvez até bisnetos da minha filha (e consequentemente meus tataranetos). Minha desconexão com esta geração é, provavelmente, total. O mundo todo não deve fazer muito sentido.

Será que alguém ainda se lembra da pandemia? Como não? Foi o grande evento do século XXI! Ou será que não foi? Levando em conta que chegamos em 2020 com muita gente desconhecendo a pandemia de 1918, não é de todo impossível que muita gente não saiba o que foi isso. Muitos que viveram a pandemia já se foram. Aquela senhora de 83 anos ali, por exemplo, era apenas um bebê e não se lembra de nada. Ela se lembra de brincar com smartphones, porém.

Que tipo de música os jovens de 2103 ouvem? Ainda existe música? Acredito que sim, a música nos acompanha desde os tempos das cavernas. Mas nunca se sabe. Mas o modo de ouvir música deve ter mudado bastante. Assim como o modo de fazer várias outras coisas. Nem consigo imaginar

Daí eu penso no mundo daqui a 100 anos. Eu teria inacreditáveis 143 anos. Não. Impossível. Mas e os avanços da medicina? Ainda assim, acho muito difícil. Já a minha filha tem 111 anos, isso é possível. Mas ela também não deve sentir uma conexão muito forte com o século XXII. Quem são estas pessoas? Os jovens de 20 e poucos anos de 2023 agora são uma relíquia. E os hipotéticos sobreviventes são mais velhos do que as pessoas mais velhas registradas 100 anos antes. Os avanços da medicina, de novo.

Eu, hipoteticamente ainda vivo, passo pela rua em que eu morava 100 anos atrás. Não reconheço mais nada.

Imagem criada com o auxílio do modelo de inteligência artificial DALL-E 3

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