Sietske
O Familysearch me mandou e-mail dizendo que tinha encontrado um registro de um antepassado meu. Desta vez não era algum primo de segundo grau do tio do meu pentavô, mas uma antepassada direta: uma das minhas tetravós holandesas, chamada Siestke.
O registro em si era de um censo de Rotterdam de 1880. Nele, constam o endereço em que minha tetravó vivia com seu filho Klaas, que vem a ser meu trisavô e pai do meu bisavô (que veio para o Brasil no início do século XX). Mas achei estranho só ter eles dois.
Investigando a árvore genealógica, descobri que meu tetravô, Egbert Wijbes, marido de Sietske, morrera em 1869, ou seja, 11 anos antes deste censo. Sietske e Egbert se casaram em 1861, e já em 1862 tiveram sua primeira filha: Rinske. Dois anos depois, nasceu meu trisavô Klaas.
Em 1866, nasceu mais um filho, chamado Boudewijn. Aí a coisa começa a ficar triste: Cerca de 2 meses depois de Boudewijn nascer, Rinske morreu, pouco antes de completar 4 anos — e faltando exatamente um mês para o aniversário de 2 anos de Klaas, meu trisavô.
Imaginem a barra. Embora a mortalidade infantil ainda fosse bem alta nessa época, nunca foi fácil. Porém, em 1868 veio um pouco de alegria para esta família, com o nascimento do caçula Pieter. A alegria não durou muito, contudo. No início de 1869, como eu já tinha antecipado alguns parágrafos acima, meu tetravô Egbert morreu.
Assim, Sietske ficou sozinha com 3 meninos para criar: Klaas, com quase 5 anos; Boudewijn, com quase 3; e Pieter, ainda um bebê de 10 meses. Mas isso também não durou muito.
Em dezembro de 1869, foi a vez de Boudewijn falecer, com apenas 3 anos e meio. Restavam agora Klaas, de 5, e o pequeno Pieter, com 1 ano. Até que em 1871 veio a nova tragédia: Pieter morreu em novembro, com apenas 3 anos. Meu trisavô Klaas tinha 7.
E foi assim que, no censo de Rotterdam de 1880, minha tetravó Sietske e meu trisavô Klaas foram registrados como os únicos moradores da casa de número 131 da Crispijnlaan. Meu trisavô tinha 16 anos, e minha tetravó, 49. Pieter morrera já há 9 anos. Muito tempo depois, na Segunda Guerra Mundial, a casa foi destruída pelos bombardeios nazistas.
Meu trisavô acabou vivendo até 1901, e teve tempo de ter seis filhos, entre eles meu bisavô Johannes. Sua primogênita, nascida em 1888, recebeu um nome em homenagem à avó: Sietske. Ela, porém, acabou morrendo com apenas 5 anos. Tenho ainda informações de que Klaas chegou a trabalhar como padeiro e também como uma espécie de faz-tudo. Klaas, porém, não chegou a vir para o Brasil. Morreu antes disso. Minha trisavó Elizabeth acabou se casando de novo e veio para cá com o novo marido, que também tinha filhos.
Diz meu pai que meu bisavô se recusava a falar do padrasto. Ele era violento, e parece que chegou a jogar uma pia inteira (!?) nas pernas dele, o que o deixou com sequelas pelo resto vida. Já minha tetravó Sietske morreu em 1890, e chegou a conhecer ao menos duas netas: sua homônima Sietske e a pequena Johanna, que nasceu cerca de 2 meses antes de sua morte (e que também veio a falecer ainda bebê, poucos meses depois da morte da avó).
A maior parte desses eventos aconteceu há mais de 150 anos, mas graças à internet, à invenção do scanner, ao pioneirismo em arquivologia dos holandeses, à minha curiosidade e a todos que sobreviveram nesta corrente, eu estou aqui para contar essa história.