Kevin Parker e o baterista Julien Barbagallo no Imperator (RJ), em 2012. Foto: Vitor Dornelles

Tame Impala no Rio: psicodelia com P maiúsculo

Vitor Dornelles
4 min readAug 17, 2020

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Publicado originalmente em agosto de 2012 no (agora extinto) site LineUp Brasil

Houve muita reclamação na internet quando anunciaram que o primeiro show do Tame Impala no Rio seria no Imperator, tradicional casa de shows na zona norte que estava fechada há alguns anos, mas reabrira pouco tempo antes. Aparentemente, o fato de estar localizada fora do eixo turístico da cidade representava um grande problema para alguns cri-cris. Sabe-se lá o que aconteceu com os reclamões, porém, uma vez que a casa lotou como há muito tempo não se via num show organizado pelo Queremos.

Dominic Simper, Nick Allbrook, Kevin Parker, Julien Barbagallo e Cam Avery. Foto: Vitor Dornelles

A fila que se formou em frente aos portões cerca de uma hora antes da abertura denunciava que a maioria presente era de fãs fervorosos. E, de fato, quando Kevin Parker e Cia entraram no palco, pouco depois das 22h, foram recebidos com genuína empolgação. A julgar pelo visual dos cinco australianos, bastante jovens, poderiam ser confundidos com uma banda de sarau de colégio. Mas bastava ouvir os primeiros acordes de “Solitude Is Bliss” para perceber que a coisa ali era séria e nada colegial. Por mais clichê que possa parecer, a sensação era de ter sido tragado por uma fenda temporal e ter ido parar — sei lá — num show do King Crimson em início de carreira. Definitivamente, os molequinhos fazem psicodelia com P maiúsculo.

“Solitude is Bliss” abriu o show. Vídeo: Vitor Dornelles

Com iluminação e cenografia minimalistas, parecia que os garotos queriam mesmo se garantir apenas na música. Apesar de embolado no começo, o som foi aos poucos se arrumando e a banda pôde fazer tranquilamente seu passeio pelas músicas do “Innerspeaker”, o excelente primeiro disco. O som gordo de “Why Don’t You Make Up Your Mind”, “Desire Be Desire Go” e “It Is Not Meant to Be” enchiam o pé direito altíssimo do Imperator e faziam os fãs tremerem dos pés à cabeça.

A banda fez uma pequena jam no meio de “Desire Be Desire Go”. Vídeo: Vitor Dornelles

Descalço e tomando hi-fi (ou suco de laranja), o simpático vocalista Kevin Parker aproveitava os intervalos entre as músicas para falar com a plateia. Disse que o Rio era o novo lugar favorito da banda, e elogiou a iniciativa do Queremos, em que os próprios fãs agem como patrocinadores do show. Na sequência emendou em sua Rickenbacker duas músicas novas do “Lonerism”, o aguardado segundo álbum: “Apocalypse Dreams” e “Elephant”, ambas muito bem recebidas. Um bom sinal para quem está ansioso pelo lançamento do disco novo.

Performance de “Apocalypse Dreams” antes do lançamento do álbum “Lonerism”. Vídeo: Vitor Dornelles
Kevin Parker em diversos momentos do show no Imperator, em 2012. Foto: Vitor Dornelles

Seguiram-se “Lucidity”, “Alter Ego” (colada numa citação de “International Feel”, do Todd Rundgren) e “Half Full Glass of Wine”, esta última do EP de estreia. Antes, porém, Kevin agradeceu algumas “oferendas” deixadas no palco por um grupo de fãs que se mobilizou para levar de presente vinis e CDs de música brasileira. Mesmo feliz com a iniciativa, porém, o vocalista não fugiu do script dos shows mais recentes e se despediu do público logo após “Half Full Glass of Wine”. Em seguida, voltaram para o bis com “Runway, Houses, City, Clouds”. Um final apoteótico para uma apresentação cheia de energia.

Close no baixo de Nick Allbrook. Foto: Vitor Dornelles

A se lamentar, só mesmo a curta duração da performance, com apenas 10 músicas. Poderiam ter tocado mais coisas do disco novo, por exemplo. Ainda assim, foi uma experiência e tanto. E tudo funcionou tão bem que é até difícil lembrar que alguém reclamou de alguma coisa no começo dessa história toda.

Kevin Parker, o cérebro por trás do Tame Impala, em seu primeiro show no Rio. Foto: Vitor Dornelles

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